Hoje fiz uma louca viagem dentro de minha mente. Cavouquei cada milímetro possível em busca de lembranças. Fui ao fundo das memórias mais antigas. E entre os afagos, encontrei-me envolvido nos braços de minha adorável mãe. Seu sorriso largo mostrava perfeita alegria pela minha existência. Seus olhos, feitos de puros e singelos brilhos, com muita simplicidade me fitavam. A cor eu ainda não conhecia, mas eram sabiamente perfeitos em seu tom. Ouvi o murmúrio de sua voz cantarolando o hino de meu sono, cheio de palavras estanhas. Eu, ainda filhote dependente, sentia-me tal qual a um rei protegido... E pelas arestas das entranhas de minhas lembranças, fui rastejando lentamente para aproveitar ao máximo e tempo perdido no passado. Mal de todo ser humano que vive em um círculo vicioso. Seguindo a esmo hipnotizado... Nós fomos abandonados no deserto das ilusões. Sufocados, angustiamos ao suspiro derradeiro. E nos momentos de lucidez, lembramos de outrora. Saudosa saudade que nos deixa de felpa ouriçada, onde os calafrios mais parecem reflexos das noites invernais. E nos refluxos momentâneos rogamos por mais um tempo... Assim, eu também gostaria de viver mais. Gostaria de viver além dos dias que me restam, pois necessito ver o futuro e entender as coisas que fundem minha mente. Adoraria saber para onde esse sistema mundial, rudimentar e falido nos levará.
Albérico Agripa.