NASCER DE NOVO! Carlos Drummond de Andrade
NASCER DE NOVO
Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto, a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver sem alma, no regaço do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora, na revelação frontal do dia, a consciência do limite, o nervo exposto dos problemas.
Sondamos, inquirimos sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado, à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida no exílio?
O incerto e suas lajes criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se à míngua de qualquer razão de vida?
Eis que um segundo nascimento, não adivinhado, sem anúncio, resgata o sofrimento do primeiro, e o tempo se redoura.
Augusto, este é o seu nome.
Augusto, a descoberta de sentido, no absurdo de existir.
O real veste nova realidade, a linguagem encontra seu motivo, até mesmo nos lances de silêncio.
A explicação rompe das nuvens, das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou Eu, o meu nascer poreja a cada instante em cada gesto meu que se reduz a ser retrato, espelho, semelhança de gesto alheio aberto em rosa.
Carlos Drummond de Andrade
NASCER DE NOVO
Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto, a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver sem alma, no regaço do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora, na revelação frontal do dia, a consciência do limite, o nervo exposto dos problemas.
Sondamos, inquirimos sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado, à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida no exílio?
O incerto e suas lajes criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se à míngua de qualquer razão de vida?
Eis que um segundo nascimento, não adivinhado, sem anúncio, resgata o sofrimento do primeiro, e o tempo se redoura.
Augusto, este é o seu nome.
Augusto, a descoberta de sentido, no absurdo de existir.
O real veste nova realidade, a linguagem encontra seu motivo, até mesmo nos lances de silêncio.
A explicação rompe das nuvens, das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou Eu, o meu nascer poreja a cada instante em cada gesto meu que se reduz a ser retrato, espelho, semelhança de gesto alheio aberto em rosa.
Carlos Drummond de Andrade
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